terça-feira, 12 de abril de 2016

"Hoje o tempo voa (...) escorre pelas mãos"

Lulu Santos não estava errado ao cantar estes versos; há muito o tempo voa e a nossa percepção da passagem do tempo, ano após ano, tende a nos assombrar e sempre terminamos o ano com a mesma frase "como passou rápido!". 

Essa nossa sensação intrigou cientistas que pesquisaram sobre o porquê do tempo ter essa pressa toda e passar tão rápido. 

Segundo os cientistas a nossa percepção de tempo está associada ao quantitativo de atividades que costumamos fazer com frequência (trabalhar, ir à escola, malhar, cursos, etc). Quanto maior é a carga de atividades que temos, passamos mais tempo ocupados com elas e a nossa percepção de tempo se dilui em meio a tantas atividades que, quando nos damos conta, o dia, a semana, o mês, o ano... Já se esgotaram. 

Contudo, esse processo não é de hoje. Desde a primeira Revolução Industrial, o homem "abandonou" o tempo da natureza e passou a ter seu ritmo ditado não mais pelo nascer e pôr do sol, mas sim pelo tic-tac do relógio. Este mesmo tic-tac incessante e de compasso rápido passou a influenciar nossas vidas, sempre tão corridas, e com milhões de coisas a serem feitas; tudo ao mesmo tempo, sempre que possível, claro. 

Com tantas atividades a percepção do tempo nos escapa imerso em compromissos de trabalho, pessoais, familiares, problemas a serem resolvidos... E quando nos damos conta, estamos repetindo a mesma frase em todo mês de dezembro: "o ano passou tão rápido que eu nem vi". 

Isso pode gerar uma série de consequências para a população que, talvez, sem se dar conta, está modificando cada vez mais a sua forma de lidar com o outro e com as coisas ao seu redor. 

Podemos citar como exemplos o pouco contato entre as pessoas, onde o entulhamento de atividades ao qual nos submetemos faz com que uma mensagem de aniversário de whatsapp, por exemplo, substitua uma visita ao amigo aniversariante. Atitudes como essas nos mostram que hoje temos uma sociedade que mal sabe se relacionar com o outro, não sabe se expressar, tão pouco conversar (poderíamos citar o atual cenário político para destrinchar ainda mais este exemplo, mas sugerimos ao leitor que leia o post abaixo para entender melhor porque não preferimos utilizá-lo). 

Outro exemplo de como isso vem afetando a nossa população é que a muitos incomoda o simples fato de ficar quieto e concentrado por alguns instantes. Isso é facilmente percebido quando pedimos as pessoas que realizem uma leitura. Não precisa ser nem de um livro, pode ser de uma breve notícia mesmo. A maioria, antes de começar a ler, conta primeiro o número de parágrafos contidos na notícia para saber quanto do seu precioso tempo será "perdido" com a leitura. Alguns nem perdem "todo esse tempo" e se limitam tão somente a ler o título da notícia e depreender todo o resto da mesma apenas a partir disso. 

Há estudos que até revelam a dificuldade da geração atual de conseguir achar uma posição para leitura de um livro, simplesmente pelo fato de não conseguirem ficar paradas e se dedicarem à leitura. 

Como se não fosse pouco, ainda há aquela questão, tão antiga quanto o próprio tempo, de aproveitamento do mesmo. Passamos a vida tão lotados de atribuições e a fazeres que quando nos damos conta, parece que a trilha sonora de nossas vidas poderia ser resumida a "Epitáfio", dos Titãs. Com isso deixamos de aproveitar diversas coisas e passamos a lamentar pelas oportunidades perdidas; tudo em nome a da marcação cruel e intermitente do relógio que nos rege e, sem nos darmos conta, nos esvai entre seus tic-tacs.   

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