quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Brasil: 8,5 milhões de Km² oficialmente e 9,1 milhões de Km² "extra-oficialmente"

Parece brincadeira mas, se confrontarmos o tamanho de nosso território com as terras registradas pelo nosso governo, nosso país teria o acréscimo de 2 estados de São Paulo em seu território... 

A discrepância vem, entre outros fatores como erro de cadastro; sobrecadastramento e "erro de digitação"; do apoderamento de terras feito em nosso país onde pessoas registram terras que muitas vezes pegam partes que são do domínio de outras pessoas... 

Essa questão já não é novidade em nosso país, quem nunca ouviu falar em grileiros e posseiros?, e se torna ainda mais grave com a falta de fiscalização do governo que, pra variar, não cumpre o seu papel com a eficiência que deveria...

Tudo bem, sei que temos um país de dimensões continentais, mas, isso não justifica já que temos tecnologia para fiscalizar e controlar isso; ta aí o georreferenciamento que não me deixa mentir...

Uma questão histórica em nosso país e que volta e meia se apresenta como espaço de conflitos, exatamente na disputa pelo espaço, em que atores diferentes por motivos diferentes disputam terras e aguardam a tão sonhada e distante reforma agrária - uma parte deles é claro; já que a outra faz o que pode para impedi-la - se mostra praticamente como um imbróglio sem fim; muito disso por conta da vontade política, é claro.  

Sendo assim, esse episódio entra pra lista de barbaridades que assistimos e que perpassam pela questão rural em nosso país... Desde a disputa por terras até a questão do voto de cabresto e agora com o "aumento" do tamanho do nosso país, nosso governo parece assistir passivo a este tipo de atrocidade. 

Parece que a presidente já está de olho nesta questão e pretende fazer algo a respeito... Mas... Ela conseguirá fazê-lo com a bancada ruralista que temos?


Do Oiapoque ao Chuí, o território brasileiro tem cerca de 8,5 milhões de km². Oficialmente, segundo o IBGE, essa é a superfície do País. No papel, porém, o território brasileiro é maior. Quando se faz a soma da área de todos os imóveis rurais cadastrados no Instituto Nacional de Colonização e Reforma (Incra), o resultado final chega a 9,1 milhões de km².

É uma diferença notável: a área que sobra equivale a duas vezes o território do Estado de São Paulo. Ou, para quem se sente melhor com grandezas imperialistas, à soma dos territórios da Alemanha e Inglaterra.
O esticamento do território nacional foi verificado pelo Sindicato Nacional dos Peritos Federais Agrários, após obter no Incra, por meio da Lei de Acesso à Informação, dados detalhados do Serviço Nacional de Cadastro Rural - que tem a tarefa de recolher informações de todos os imóveis rurais registrados no País. O mapeamento reúne informações de 2011. As de 2012 ainda não foram compiladas pelo Incra.
Os peritos concluíram que o Brasil, uma das maiores potências agrícolas do mundo, está longe de ter um cadastro de terras confiável. O problema mais aparente é o que eles chamam de sobrecadastro - quando a soma das áreas declaradas pelos proprietários nos cartórios supera a superfície real do município. Nessa categoria, o caso que mais chama a atenção é o de Ladário, no Mato Grosso do Sul.
Dez andares. De acordo com o IBGE, a superfície daquele município alcança 34.250 hectares. Mas a soma da área dos 139 imóveis cadastrados é mais do que dez vezes maior: chega a 397.999 hectares. Dito de outra forma, para que o território cadastrado coubesse no real seria necessário erguer dez andares de terras sobre Ladário.
O município sul-mato-grossense chama a atenção por estar no topo da lista, mas o problema não ocorre só lá, nem é exclusividade do Brasil profundo. Palmas e Cuiabá, capitais de dois Estados que se destacam como importantes produtores agrícolas - Tocantins e Mato Grosso -, enfrentam o mesmo problema.
Pelas informações obtidas no Incra, dos 5.565 municípios brasileiros, 1.354 tem sobrecadastramento, o que representa cerca de um em cada quatro. A razão mais comum para o descompasso são fraudes nos registros e até erros na transcrição dos números. Mas não é só. Os peritos apontam desatualização dos registros e, sobretudo, as condições precárias em que são feitos.
“Quase tudo gira em torno da declaração que o proprietário faz no cartório sobre o tamanho de sua terra”, diz Fernando Faccio, perito federal do Incra em Florianópolis (SC) e porta-voz do sindicato. “Os órgãos estaduais de terras não possuem um bom mapeamento das áreas; os cartórios não têm obrigação de garantir que a terra registrada não está em cima de outra; e o Poder Público também não vai lá verificar.”
Para Faccio, o fato de o Brasil não conhecer sua malha fundiária é inaceitável, principalmente quando se considera que as tecnologias já existentes, como o georreferenciamento, permitem resolver o problema de maneira eficiente. “Só posso imaginar que os empecilhos no caminho da modernidade são essencialmente políticos.”
Terra a menos. Sobra de terra no cadastro não é o único drama. Na região Norte do País verifica-se o subcadastramento, que ocorre quando a superfície registrada é menor do que a real. A causa principal é a existência de grandes áreas de terras devolutas, controladas pelo Estado e frequentemente ocupadas de maneira irregular.
O sindicato estima que na região amazônica só 4% do território está cadastrado. “Os órgãos de governo não tem controle de suas terras, o que acaba favorecendo os conflitos agrários na região”, afirma Faccio.
O sindicato do qual ele faz parte defende a ideia de que o Incra passe a se dedicar exclusivamente ao controle fundiário, transferindo para outros organismos a questão da reforma agrária. O órgão passaria a se chamar Instituto de Terras.
“Sem conhecer sua malha fundiária, o Brasil não consegue definir políticas públicas de maneira consistente, não consegue evitar a insegurança jurídica. No momento não se sabe nem quanta terra se encontra nas mãos de estrangeiros”, observa o perito.
O assunto atrai a atenção da presidente Dilma Rousseff desde quando era chefe da Casa Civil. Confrontada com questões relacionadas a desmatamento, conflitos agrários, políticas sociais na zona rural, a então ministra constatou que existem cadastros paralelos no Incra, na Receita Federal e nos ministérios do Meio Ambiente e da Agricultura - e que nenhum deles é confiável.
Na Presidência, ela tem cobrado a consolidação de um cadastro único e confiável. A ministra Gleise Hoffmann, que substituiu Dilma na Casa Civil, é uma das pessoas encarregadas de analisar a questão. 

2 comentários:

  1. Trabalho no INCRA. Nos últimos 15 anos o órgão sofreu redução drástica de seu efetivo e ao mesmo tempo recebeu mais e mais atribuições. A situação é insustentável. Cabe ao INCRA regularização fundiária, assentamentos da reforma, obtenção de terras, quilombolas, atingidos por barragem, concessão de crédito aos assentados, construção de casas, de estradas nos assentamentos.
    O número de assentamentos cresceu assustadoramente nesses últimos 20 anos , enquanto o quadro de servidores se reduzia.
    Ou se faz algo para reduzir e distribuir essa carga de atribuiçoes ou o INCRA vai ficar existindo para ser o "bode expiatório" de toda uma falta de vontade política em resolver essa e demais questões agrárias e fundiárias.

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    1. Caro José, é sempre bom ouvir os dois lados... Se a situação anda tão caótica quanto você nos relata. Parece-me então que o INCRA talvez esteja vivendo um processo de sucateamento em sua estrutura que o sobrecarrega de tal forma que parece atar-lhe os pés... Se for esse o caso, é lamentável que o Governo tenha essa postura não só em relação ao órgão mas também as pessoas que dele dependem...

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