domingo, 3 de junho de 2012

Índia e China Invertendo Os Papéis

COPs, Rio+20, tratados, protocolos... São inúmeras as tentativas de se chegar a um acordo em escala global para uma economia mais sustentável. 

Não de hoje que a Terra vem dando sinais de que não podemos continuar no ritmo de produção em que nos encontramos, pena que só prestamos atenção nisso nos anos 60. Mas, antes tarde do que nunca. 

Diante dessa situação a palavra sustentabilidade passou a ser comum em nosso dia a dia e começou a levantar questões sobre como estamos utilizando os recursos do nosso planeta... E as respostas se mostraram cada vez mais negativas...  

No ritmo de crescimento pelo qual o mundo vem passando e com as emergências de potências do tamanho da Índia, China, Brasil e Rússia; as preocupações se tornaram cada vez maiores... Se todos os países emergentes, além dos citados, adotarem o mesmo modelo de crescimento que o europeu e o norte-americano o nosso planeta fatalmente entrará em colapso. 

Diante dessa situação, países como China e Índia (e a Ásia como um todo também), perceberam que devem adotar uma receita diferente para seus crescimentos, apoiada em um desenvolvimento sustentável e que pode servir de modelo para todo o mundo. 

Essa tomada de decisão por parte desses países pode ser fundamental para acabar com o jogo de empurra que acontece há tempos sobre a questão de como aplicar medidas sustentáveis e assim continuar provendo o crescimento econômico. 

Fato é que países que antes era vistos como sérias ameaças a questões ambientais (a China tinha previsões de se tornar o maior país poluidor do mundo em 2020, superando os Estados Unidos, mas conseguiu bater essa meta em 2008...) por conta de seu crescimento, estão agora fazendo a sua parte para que esse quadro se reverta e o seus crescimentos se deem da forma mais sustentável possível.

Claro que isso demandará um toque de criatividade e bastante engenhosidade, mas que serão muito bem-vindas se forem efetivas e, quem sabe, exportadas para todo o planeta.



Liderada pela Ásia, a participação dos mercados emergentes na economia global cresceu consistentemente nas últimas décadas. Para os países asiáticos - em especial seus gigantes em ascensão, China e Índia -, o crescimento sustentável já não é apenas uma questão distante. O desafio global de cuidar do meio ambiente, tornou-se algo estratégico para a manutenção do crescimento nacional. Isso assinala uma mudança radical na estrutura global dos incentivos para alcançar a sustentabilidade.

Nas próximas décadas, quase todo o crescimento mundial em energia, consumo, urbanização, uso de automóveis, viagens de avião e emissões de carbono virá de economias emergentes. Em meados do século, o número de pessoas vivendo no que serão então economias de alta renda crescerá do 1 bilhão atual para 4,5 bilhões. O produto interno bruto global, atualmente de cerca de 60 trilhões de dólares, pelo menos triplicará nos próximos 30 anos. Se as economias emergentes tentarem alcançar os níveis de renda de países avançados seguindo, aproximadamente, o mesmo padrão de seus antecessores, o impacto nos recursos naturais e no meio ambiente será enorme, arriscado e, possivelmente, desastroso. Um ou vários pontos críticos provavelmente causarão uma parada brusca no processo econômico e social. Segurança e custo da energia, qualidade do ar e da água, clima, ecossistemas terrestres e oceânicos, segurança alimentar e muito mais estariam ameaçados.

Por enquanto, quase todos os indicadores mostram uma tendência declinante em termos de concentração do poder econômico global. Mantendo-se essa tendência, o desafio da sustentabilidade se tornaria cada vez maior. Com mais países pressionando os recursos naturais, haveria um estímulo para que cada um esperasse os outros agirem para tirar de si a necessidade de se mexer. É um problema clássico na teoria dos jogos, batizado de "carona" - já que cada um tentaria "pegar carona" na solução ambiental jogando os custos para os outros. Nesse caso, seriam necessários complexos entendimentos globais que impusessem cobranças de acordo com as taxas de crescimento de cada país. A tendência à concentração se inverterá dentro de uma década em razão do tamanho e das taxas de crescimento de Índia e China, que juntas abrigam quase 40% da população mundial. Embora seu PIB combinado ainda seja uma parcela relativamente pequena da produção global (em torno de 15%), essa participação está crescendo de maneira acelerada. Até meados do século, os dois países terão 2,5 bilhões dos 3,5 bilhões de pessoas que serão adicionadas à parcela de habitantes do planeta com renda alta. Só esse fato fará o PIB global ao menos dobrar nas próximas três décadas, mesmo na ausência de crescimento em qualquer outro país.

EM BUSCA DE UM NOVO RUMO A boa nova é que a sustentabilidade virou questão-chave para o crescimento de longo prazo de Índia e China. Seus padrões e estratégias de crescimento, e as escolhas que elas fizerem no que diz respeito a estilo de vida, urbanização, transporte, meio ambiente e eficiência energética, determinarão, em grande medida, se as duas economias poderão completar a longa transição para níveis de renda avançados. Chineses e indianos sabem disso. Há uma consciência crescente entre dirigentes políticos, empresários e cidadãos nos dois países (e na Ásia de maneira mais ampla) de que os caminhos de crescimento histórico que seus antecessores seguiram simplesmente não funcionarão - e de que a rota antiga não servirá para uma economia mundial com o triplo do tamanho atual.

Consequentemente, esses países terão de inventar novos padrões de crescimento. Eles já são grandes demais para não pagar pelos recursos universais de que usufruem. Felizmente, os incentivos relacionados à sustentabilidade estão sendo assumidos como prioridade nacional. As percepções estão rapidamente se alinhando com a realidade de que a sustentabilidade deve se tornar um ingrediente crítico do crescimento. O velho modelo não funcionará.

É evidente que hoje ninguém sabe como alcançaremos a sustentabilidade com uma economia global três vezes (ou mais) maior que a atual. Esse objetivo será determinado por um processo de descoberta, experimentação, inovação e criatividade. Veremos um jogo de compensações ao longo do caminho. Mas o incentivo para ignorar essas questões terminou, independentemente do que outros países escolherem fazer e dos acordos globais que possam ser alcançados.

As grandes economias emergentes em acelerado crescimento têm algumas vantagens. Integrar a sustentabilidade às políticas e às estratégias de crescimento é de seu próprio interesse, e é consistente com seus horizontes de longo prazo. Os patrimônios legados que se encontram em países desenvolvidos - a maneira como as cidades estão configuradas, por exemplo - não precisam ser substituídos na mesma extensão. O 12o Plano Quinquenal da China baixa a projeção de crescimento (para 7%) para criar "espaço" para lidar com questões como equidade, sustentabilidade e meio ambiente. O processo de descobrir um novo caminho de crescimento já começou.

A emergência da sustentabilidade como um elemento crítico nas estratégias de crescimento nas futuras maiores economias do mundo é um fato extraordinariamente positivo, porque as necessidades, os objetivos e as prioridades nacionais continuam sendo incentivos muito mais poderosos que acordos internacionais.

Isso tudo pode parecer uma variante do senso comum. Como poderia a multiplicação do PIB global por 3 e a população de alta renda mundial por 4 ser uma boa notícia, com tudo o que a acompanha? Bem, depende do que se acredita ser a alternativa. Um crescimento global lento seria benéfico para os recursos naturais e o meio ambiente, é verdade. Mas é ilusão apostar nisso, a menos que haja um colapso nos suprimentos de recursos naturais e, de forma mais geral, na sustentação ambiental. Assim, o padrão é o alto crescimento de mercados emergentes, cujas chaves são a inovação e o ajuste ao caminho do crescimento.

À medida que os asiáticos caminharem para padrões mais sustentáveis, eles aumentarão os incentivos para que outros façam o mesmo - gerando novas tecnologias e reduzindo o custo ambiental do crescimento. Seria incorreto dizer que o problema do "carona" terminou ou que acordos multinacionais já não são desejáveis. Mas um progresso real, movido pela necessidade e pelo interesse próprio, está se tornando o caminho mais provável no médio prazo. Chineses e indianos lutarão cada vez mais pelo crescimento sustentável, para seu próprio bem. De quebra, ajudarão a salvar o planeta em que todos vivemos.

Extraído de planetasustentavel.com.br

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